quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Nota do Levante Popular da Juventude aos estudantes sobre a greve das universidades estaduais baianas


O movimento docente iniciou em maio uma importante greve, que ao longo de seus quase 3 (três) meses apontou os problemas enfrentados pelas 4 (quatro) universidades estaduais baianas (ueba’s), como os cortes dos investimentos (que implica em não realização de concursos, ampliação de laboratórios e estruturas físicas, pagamento de trabalhadores terceirizados, etc.), ausência de democracia e transparência das reitorias, falta de incentivo à carreira docente e insuficiência de recursos para as ações de assistência estudantil.
A greve insere-se no cenário das crises econômica, política e social provocada pelos setores da burguesia. Na Educação, o ajuste fiscal atinge a marca de 9 bilhões afetando programas de pós-graduação, bolsas estudantis, programas como o PIBID, PROUNI e FIES. A greve das universidades públicas se espalhou pelo país e incendiou o debate do financiamento para educação pública ao mesmo tempo em que no Senado está em discussão um projeto de retomada do regime de concessões da exploração de petróleo que, se aprovado, inviabiliza a meta de 10% do PIB para educação delimitada no PNE aprovado no ano passado
O Levante Popular da Juventude participou das ações do movimento grevista, indo aos protestos na Secretaria Estadual de Educação, participando de debates e palestras, ocupando as ruas e estradas e reivindicando junto às reitorias transparência com a utilização dos recursos públicos. Apesar de não ter havido uma participação massiva entre os (as) estudantes, o movimento estudantil, junto com o movimento docente, apontaram a greve como um passo importante no sentido dos avanços de ambas as classes.
Apresentamos pontos que consideramos vitórias políticas da greve que poderão ter implicações práticas na vida das(os) estudantes:
Revogação da Lei 7.176/97: aprovada durante o governo “carlista”, as categorias universitárias lutam desde 1997 pela revogação desta lei, a qual fere a autonomia universitária ao estabelecer de cima para baixo como deve funcionar os órgãos e conselhos das ueba’s e instituir o critério em que 70% das cadeiras dos conselhos superiores devem ser ocupadas por professores, 15% por técnicos administrativos e 15% por estudantes. A revogação desta lei significa que cada UEBA poderá estabelecer as regras para composição dos conselhos, inclusive abrindo grande possibilidade para conseguirmos o VOTO IGUALITÁRIO E UNIVERSAL nas eleições para as reitorias, colegiados e departamentos (já que hoje o voto dos funcionários vale mais que o dos professores, e ambos valem mais que o dos estudantes).
Garantia de direitos trabalhistas para docentes: entre as pautas de interesse de toda a categoria estudantil está a defesa da universidade pública. O corte de verbas na ordem de 19 milhões de reais nos últimos anos fez com que o governo emperrasse a progressão na carreira docente (auxiliar-assistente-titular-pleno). A luta travada nestes quase 3 (três) meses fez o governo recuar do desrespeito a direitos já garantidos por lei e promover os processos de promoção e progressão na carreira docente. Isso possibilita a valorização do trabalho docente, tanto do ponto de vista do nível produtivo e de dedicação dos professores às disciplinas, projetos de extensão e pesquisa, quanto da efetiva proteção trabalhista e fixação de professores pós-graduados nas universidades públicas (já que muitos têm buscado as universidades particulares por faltar condições de trabalho nas ueba’s).
Assistência estudantil: desde a greve de 2011, o movimento estudantil reivindica que pelo menos 1% da receita líquida de arrecadação de impostos (RLI) seja destinado aos programas de assistência e permanência estudantil (ou seja, rubrica específica para a assistência e permanência). Durante a greve, o governo apresentou uma proposta de programa estadual de permanência estudantil. Muitos (as) de nós, estudantes, recebemos durante a greve uma carta informando-nos sobre essa proposta: a) aos estudantes residentes no mesmo munícipio onde se localiza o campus onde está matriculado(a), o pagamento durante 8 meses do ano de um auxílio de R$300,00; b) aos estudantes que não possuem residência no mesmo município onde se localiza o campus onde está matriculado(a), o pagamento de um auxílio de R$600,00 durante os 12 meses do ano. Acreditamos que seja uma boa proposta, e que pode atender aos anseios de muitas(os) estudantes. Entretanto, apresenta como condicionantes para se ter acesso ao auxílio: a) vinculação da família no cadÚnico do governo federal; b) não ter qualquer vínculo empregatício; c) estar regularmente matriculado(a) em curso presencial, desde que não tenha concluído outro curso; d) pegar  todas as matérias do semestre, não podendo perder em nenhuma disciplina e concluir o curso obrigatoriamente no tempo mínimo; e) recebimento do auxílio por no máximo 2/3 da duração do curso.
Essas inúmeras condicionantes funcionam como entrave para que os/as estudantes tenham acesso e garantia do auxílio, podendo inclusive limitar a aplicação deste plano. O horizonte que se apresenta não é outro a não ser LUTAR para que o programa seja aperfeiçoado e que tais condicionantes sejam revistas sob pena de não termos de fato garantida a ASSISTÊNCIA E PERMANÊNCIA ESTUDANTIL e consequentemente o desejo de todos(as) estudantes de concluir sua graduação com qualidade.
Compreendemos que ainda nos resta muito a conquistar pelas nossas universidades estaduais. A luta por mais investimentos para as ueba’s ainda não acabou e só poderá ir à frente a partir de uma ampla unidade entre estudantes, professores e técnicos e, para além dos muros da universidade, com o envolvimento dos movimentos populares e organizações civis que também se beneficiam das ações de pesquisa e extensão das universidades.
É necessário levantar e lutar em torno de bandeiras prioritárias como o bandejão popular a R$1,00 e com fornecimento de alimentos oriundos da agricultura familiar e livres de agrotóxicos; implementação de creches que acabe com os privilégios e dê conta da demanda das três classes igualmente: estudantes, funcionárias, professoras e comunidade ao entorno do campi; e construção e ampliação de moradias Universitárias em todos os campi das Universidades Estaduais, oferecendo vagas e condições dignas para estudantes mais carentes das universidades.
Por tudo isso, o Levante Popular da Juventude se mantém mobilizado para seguir os avanços e combater os retrocessos rumo a uma universidade de fato pública, gratuita, laica, democrática e popular.

Das ruas, das praças, quem disse que sumiu, aqui está presente o movimento estudantil!

Juventude que ousa lutar, constrói o poder popular!
 

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