sexta-feira, 26 de julho de 2013

"É preciso passar a ação" - Ato simbólico Monumento Carlos Marighella


Salvador, 23 de Julho de 2013.

A frente única,  que se identifica como MPL Salvador(Movimento Passe Livre Salvador), nessa terça- feira de Ogum(Orixá guerreiro que forja as próprias armas), 23,  foi, mais uma vez, às ruas.  Desta vez, rumo a Governadoria de Salvador, a fim de conseguir um espaço de diálogo para que o Movimento possa ter suas reivindicações atendidas, utilizamos da ação direta.
O ponto de encontro marcado pelas manifestantes foi no Monumento Luís Eduardo Magalhães – monumento criado para servir de lápide para o filho do antigo coronel da Bahia – lacaio da ditadura militar, Antônio Carlos Magalhães (PFL, hoje DEM, – BA).  A frente única tomou o monumento e reinaugurou esta com o nome de CARLOS MARIGHELLA, em homenagem ao militante político baiano, comunista e descendente de Haussás (negros dirigentes da revolta dos Malês, em 1835, que quase tomou o poder em busca da liberdade dos negros e negras de toda Bahia).
No ato, afirmamos, parafraseando o comandante Marighella, que “não temos tempo de ter medo!” e precisamos ter respostas concretas para a população de Salvador no que diz respeito à mobilidade urbana e ao transporte público.
O Levante Popular da Juventude, enquanto construtor  e incentivador do movimento,  acredita que “a ação faz a organização” e o movimento popular quanto mais organizado, mais amplia sua capacidade de ser vitorioso e assim cumprir o papel do exemplo pedagógico que atrai o povo para a luta por seus direitos.
Para nós, do Levante Popular da Juventude, contribuir com nossa referência e experiência em lutas populares, com essa Frente única, é a oportunidade de colocar nossa militância a disposição da luta e ajudar com a necessária, porém difícil, tarefa da unidade entre as força populares.

A partir dessa luta poderemos nos preparar para os próximos desafios que, com certeza, virão com vitórias concretas e uma mensagem pedagógica para o povo de toda Bahia: só a luta muda a vida! E só com a unidade das forças populares é que se pode colocar nas agendas dos três poderes da Bahia e do Brasil as reformas estruturais e populares(Reforma Urbana, Política, dos meios de Comunicação, Agrária,etc..), que tem capacidade de alterar os rumos da história do Brasil e favorecem a organização Popular.

Por Gabriel Machado, Militante do Levante Popular da Juventude de Salvador.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Delineada pela resistência e luta: Eis a Mulher Negra!






“A carne mais barata do mercado é a carne negra...” 

O racismo é base do sistema capitalista e patriarcal da nossa sociedade, herança do período colonial, contexto no qual se constituiu o povo brasileiro. Esse processo conflituoso foi construído a partir do estupro do homem branco às mulheres índias e negras - o sistema de escravidão que explorou a mão de obra das mulheres negras também explorou seus corpos. E essa dominação persiste nos dias atuais, quando, por exemplo, a grande mídia, que reproduz o machismo e o racismo, vincula a imagem da mulher negra à sexualidade e o erotismo.

Esse sistema patriarcal-racista-capitalista que vivemos incide na vida das mulheres negras de forma particular. A divisão entre espaço público e privado conformou a hierarquia e a diferença entre homens e mulheres, o que foi determinante para a divisão sexual do trabalho e que reforça a desigualdade de gênero e a exploração da mulher, por dois princípios básicos: existe trabalho de homem e trabalho de mulher; o trabalho do homem vale mais que o trabalho da mulher. E isso orienta ainda os dias de hoje, as mulheres no Brasil recebem 30% menos para exercer o mesmo trabalho que os homens, e em Salvador, cidade mais negra do país, esse número se aproxima de 45%.

O machismo impõe que nós, mulheres, não temos direito sobre nossa vida e nossos corpos. A legalização do aborto, bandeira do movimento feminista, é uma pauta que atinge diretamente à vida das mulheres negras, porque são as mulheres pobres da periferia que sofrem utilizando métodos inseguros, por não terem acesso às clinicas especializadas para realizar o procedimento. Acabam morrendo à espera de atendimento nos centros de saúde e ainda são criminalizadas. As mulheres negras sentem na pela a falta de recursos em bens públicos, como creche, saúde, educação. São as que estão nos presídios, as mães solteiras, as que por não ter acesso a educação básica, são minoria na Universidade, e assim estão sempre ocupando os empregos menos valorizados da sociedade. Ser negra no Brasil é nascer sem autoestima, sofrer a imposição de um padrão de beleza branco que afirma a todo tempo que o melhor é ter cabelo liso, nariz fino, por que a beleza negra não é valorizada. 

O povo negro sempre viveu à margem da sociedade e ao longo da história foi propagandeado como inferior moral e intelectualmente, e no caso da mulher negra essa opressão é duplicada. Diferente do que se conta nos livros de história os negros e as negras cumpriram um papel essencial de resistência na construção do Brasil, participando das revoltas intensas que marcaram a história na luta pela libertação de seu povo. Pouco se fala das mulheres negras: Dandara, Maria Felipa, Zeferina que empunharam seus corpos em luta contra a dominação europeia.

O dia 25 de julho tem como ponto a reafirmação e resistência das mulheres negras, e significa dar visibilidade a uma luta histórica que poucos conhecem. A construção de um feminismo anti-racista é fundamental para alterar as relações de dominação e opressão vivenciada por essas mulheres, e isso só acontecerá a partir de grandes transformações no modo de produção capitalista. É preciso valorizar a identidade e a importância dessas mulheres na construção do país. Estamos caminhando, conquistamos algumas vitórias, mas ainda falta muito. Queremos o fim da violência contra a mulher, queremos mais mulheres negras na Universidade, queremos moradia e saúde, um Estado laico, queremos acesso aos espaços públicos. Queremos o poder! 


Vivas às
 Dandaras de ontem, hoje e amanhã!
LEVANTE-SE CONTRA O RACISMO E O MACHISMO!



Patrícia Chaves - Militante do Levante Popular da Juventude de Salvador