O racismo é base do
sistema capitalista
e patriarcal da
nossa sociedade, herança do período colonial, contexto
no qual se constituiu o povo brasileiro. Esse processo conflituoso foi
construído a partir do estupro do homem branco às mulheres índias e negras - o sistema
de escravidão que explorou a mão de obra das mulheres negras também explorou
seus corpos. E essa dominação persiste nos dias atuais,
quando, por exemplo, a
grande mídia, que reproduz
o machismo e o racismo, vincula a
imagem da mulher negra à sexualidade
e o erotismo.
Esse sistema
patriarcal-racista-capitalista que vivemos incide na vida das mulheres negras
de forma particular. A
divisão entre espaço público e privado conformou a hierarquia e a
diferença entre
homens e mulheres, o que
foi determinante para a divisão sexual do trabalho e que reforça a
desigualdade de gênero e a exploração
da mulher, por dois princípios básicos:
existe trabalho de homem e trabalho de mulher; o trabalho do homem vale mais
que o trabalho da mulher. E
isso orienta ainda os
dias de hoje, as mulheres no
Brasil recebem 30%
menos para exercer o mesmo trabalho que
os homens, e
em Salvador, cidade mais negra do país, esse
número se aproxima de 45%.
O machismo impõe
que nós, mulheres, não
temos direito sobre nossa vida e nossos corpos. A legalização do aborto,
bandeira do movimento feminista, é uma pauta que atinge diretamente à vida das
mulheres negras, porque são
as mulheres pobres da periferia que sofrem utilizando métodos inseguros, por
não terem acesso
às clinicas especializadas para
realizar o procedimento. Acabam morrendo à espera de atendimento nos centros de
saúde e ainda são criminalizadas. As
mulheres negras sentem na pela a falta
de recursos em bens públicos, como creche, saúde, educação. São as que estão
nos presídios, as mães solteiras, as que por não ter acesso a educação básica,
são minoria na Universidade, e assim estão sempre ocupando os empregos menos
valorizados da sociedade. Ser negra no Brasil é nascer sem autoestima, sofrer a
imposição de um padrão de beleza branco que afirma a todo tempo que o melhor é
ter cabelo liso, nariz fino, por que a beleza negra não é valorizada.
O povo negro sempre
viveu à margem
da sociedade e
ao longo da história foi propagandeado como inferior moral e intelectualmente,
e no caso da mulher negra essa opressão é duplicada. Diferente do que se conta
nos livros de história os negros e as negras cumpriram um papel essencial de
resistência na construção do Brasil, participando das
revoltas intensas que
marcaram a história na luta pela libertação de seu povo. Pouco se fala das
mulheres negras: Dandara,
Maria Felipa, Zeferina que empunharam seus corpos em luta contra a dominação europeia.
O dia 25 de julho tem
como ponto a reafirmação e resistência das mulheres negras, e significa dar
visibilidade a uma luta histórica que poucos conhecem. A
construção de um feminismo anti-racista é
fundamental para alterar as relações de dominação e opressão vivenciada por
essas mulheres, e isso
só acontecerá
a partir de grandes
transformações no modo de produção capitalista. É
preciso valorizar a identidade e
a importância dessas mulheres na construção do país. Estamos
caminhando, conquistamos algumas vitórias, mas ainda falta muito. Queremos
o fim da violência contra a mulher, queremos mais mulheres negras na
Universidade, queremos moradia e
saúde, um Estado laico, queremos acesso aos espaços públicos. Queremos o poder!
Vivas às Dandaras de ontem, hoje e amanhã!
LEVANTE-SE CONTRA O RACISMO E O MACHISMO!
Patrícia Chaves - Militante do Levante Popular da Juventude de Salvador
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