quinta-feira, 25 de julho de 2013

Delineada pela resistência e luta: Eis a Mulher Negra!






“A carne mais barata do mercado é a carne negra...” 

O racismo é base do sistema capitalista e patriarcal da nossa sociedade, herança do período colonial, contexto no qual se constituiu o povo brasileiro. Esse processo conflituoso foi construído a partir do estupro do homem branco às mulheres índias e negras - o sistema de escravidão que explorou a mão de obra das mulheres negras também explorou seus corpos. E essa dominação persiste nos dias atuais, quando, por exemplo, a grande mídia, que reproduz o machismo e o racismo, vincula a imagem da mulher negra à sexualidade e o erotismo.

Esse sistema patriarcal-racista-capitalista que vivemos incide na vida das mulheres negras de forma particular. A divisão entre espaço público e privado conformou a hierarquia e a diferença entre homens e mulheres, o que foi determinante para a divisão sexual do trabalho e que reforça a desigualdade de gênero e a exploração da mulher, por dois princípios básicos: existe trabalho de homem e trabalho de mulher; o trabalho do homem vale mais que o trabalho da mulher. E isso orienta ainda os dias de hoje, as mulheres no Brasil recebem 30% menos para exercer o mesmo trabalho que os homens, e em Salvador, cidade mais negra do país, esse número se aproxima de 45%.

O machismo impõe que nós, mulheres, não temos direito sobre nossa vida e nossos corpos. A legalização do aborto, bandeira do movimento feminista, é uma pauta que atinge diretamente à vida das mulheres negras, porque são as mulheres pobres da periferia que sofrem utilizando métodos inseguros, por não terem acesso às clinicas especializadas para realizar o procedimento. Acabam morrendo à espera de atendimento nos centros de saúde e ainda são criminalizadas. As mulheres negras sentem na pela a falta de recursos em bens públicos, como creche, saúde, educação. São as que estão nos presídios, as mães solteiras, as que por não ter acesso a educação básica, são minoria na Universidade, e assim estão sempre ocupando os empregos menos valorizados da sociedade. Ser negra no Brasil é nascer sem autoestima, sofrer a imposição de um padrão de beleza branco que afirma a todo tempo que o melhor é ter cabelo liso, nariz fino, por que a beleza negra não é valorizada. 

O povo negro sempre viveu à margem da sociedade e ao longo da história foi propagandeado como inferior moral e intelectualmente, e no caso da mulher negra essa opressão é duplicada. Diferente do que se conta nos livros de história os negros e as negras cumpriram um papel essencial de resistência na construção do Brasil, participando das revoltas intensas que marcaram a história na luta pela libertação de seu povo. Pouco se fala das mulheres negras: Dandara, Maria Felipa, Zeferina que empunharam seus corpos em luta contra a dominação europeia.

O dia 25 de julho tem como ponto a reafirmação e resistência das mulheres negras, e significa dar visibilidade a uma luta histórica que poucos conhecem. A construção de um feminismo anti-racista é fundamental para alterar as relações de dominação e opressão vivenciada por essas mulheres, e isso só acontecerá a partir de grandes transformações no modo de produção capitalista. É preciso valorizar a identidade e a importância dessas mulheres na construção do país. Estamos caminhando, conquistamos algumas vitórias, mas ainda falta muito. Queremos o fim da violência contra a mulher, queremos mais mulheres negras na Universidade, queremos moradia e saúde, um Estado laico, queremos acesso aos espaços públicos. Queremos o poder! 


Vivas às
 Dandaras de ontem, hoje e amanhã!
LEVANTE-SE CONTRA O RACISMO E O MACHISMO!



Patrícia Chaves - Militante do Levante Popular da Juventude de Salvador


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