quarta-feira, 29 de julho de 2015

Carta Aberta do II Seminário da Frente Estudantil





Nos dias 25 e 26 de julho, o Levante Popular da Juventude Bahia realizou em Vitória da Conquista seu 2º Seminário Estadual da Frente Estudantil. O encontro reuniu militantes de todo o estado para debater a conjuntura da educação baiana, bem como avaliar e planejar as ações do Levante para o próximo período. Ao fim do seminário, foi escrita uma carta em que tornarmos pública a síntese do encontro.

Leia o documento na íntegra:






 Carta Aberta do II Seminário Estadual da Frente Estudantil
 Levante Popular da Juventude - Vitória da Conquista, Bahia
29 de julho de 2015


                1. Diante de um cenário de crise econômica, ofensiva da direita, instabilidade política e polarização da luta de classes, nós do Levante Popular da Juventude organizamos o II Seminário Estadual da Frente Estudantil, em Vitória da Conquista – Bahia. Apontamos as tarefas de agitar e propagandear as bandeiras democrático-populares no Movimento Estudantil baiano ao tempo em que seguiremos na luta em favor da educação pública, gratuita, laica e de qualidade, e por uma universidade popular.
                2. Vivemos mais de uma década de governo petista, um governo contraditório que, num contexto econômico favorável, se conformou como um governo de composição de diversos setores sociais (que tem em seu interior esquerda, centro e direita) e de conciliação (que procura conciliar os interesses da burguesia com os interesses da classe trabalhadora). O neodesenvolvimentismo é a política que viabiliza isso, combinando crescimento econômico e combate à pobreza;      
                3. O cenário nacional de acirramento da luta de classes se agrava. Setores burgueses se movimentam para derrubada da ordem constitucional e a classe trabalhadora atônita não tem uma orientação bem definida de como agir. O ajuste fiscal que se intensifica com novas medidas cria um cenário ainda maior de desgaste do governo perante os setores organizados de sua base social e dá armas para a burguesia agir sob a égide de defensora dos interesses dos trabalhadores e dos direitos sociais;
                4. Na Educação, o ajuste fiscal atinge a marca de 9 bilhões afetando programas de pós-graduação, bolsas estudantis, programas como o PIBID, PROUNI e FIES. A greve das universidades federais se espalha pelo país e abre o debate do financiamento para educação pública ao mesmo tempo em que no Senado está em discussão um projeto de retomada do regime de concessões da exploração de petróleo que, se aprovado, inviabiliza a meta de 10% do PIB para educação delimitada no PNE aprovado no ano passado;
                5. No estado da Bahia, a situação das universidades estaduais é igualmente grave: 7 milhões de corte orçamentário em relação ao ano passado (e um acumulado de 19 milhões nos últimos dois anos); suspensão de concurso público; limitação do quadro docente e técnico; corte no apoio a eventos e viagens de campo; insuficiência de restaurantes, residências e creches para filho(a)s de estudantes, etc. Resultado: docentes das 4 Universidades Estaduais entraram em greve há mais 60 dias e lutam por mais verbas para as universidades, além da revogação da lei 7.176/97 e garantias de direitos trabalhistas;
                6. Nos últimos anos, obtivemos conquistas no sentido da democratização do acesso à universidade pública. O sistema de cotas e a ampliação de vagas mediante abertura de novos cursos, novas turmas, turmas para beneficiários da reforma agrária, foram medidas que possibilitaram pela primeira vez na história a entrada dos trabalhadores e trabalhadoras no ensino superior e devem ser defendidas com unhas e dentes.
                7. A nossa pauta é a efetiva democratização do acesso e do próprio espaço da universidade, para seguir com a inclusão de negros e negras, camponeses e camponesas, indígenas, quilombolas, LGBT’s e com a ampliação das políticas de assistência estudantil para permanência dessas pessoas, o que é condição última para garantia dessas conquistas.
                8. Os avanços ainda não são suficientes face aos ataques das elites e a falta de vontade política do governo. A construção de uma universidade popular perpassa por inúmeros desafios. Continuamos vivendo em uma universidade antidemocrática, sem transparência em suas políticas orçamentárias. O corte de investimentos na educação prejudica sobretudo a permanência estudantil e suas ações – creches, residências, restaurantes, bolsas, transportes, etc. E, infelizmente, o perfil do fazer universitário continua em grande medida sendo academicista, fechado aos anseios da comunidade e conservador; logo pautamos políticas internas de combate a todo e qualquer tipo de discriminação ou preconceito seja ele de cunho sexual, religioso, étnico, ou identidade de gênero.
                9. Mas para que essas políticas possam de fato ser efetivadas, devemos continuar a postura de combate ativo e intransigente dos cortes orçamentários que atingem diretamente estudantes, professores e funcionários, mas, sobretudo, agitar a bandeira de um projeto popular para a educação, que contrapõe diretamente os interesses da burguesia nas nossas universidades.
                10. A única forma de obtermos sucesso nesta tarefa é assegurarmos a unidade do movimento, sem divisionismos, nem hierarquia entre as categorias. Professores, estudantes, funcionários e comunidade devem forjar uma aliança sincera e buscar o apoio dos movimentos sociais organizados também externos, estabelecer o diálogo com o conjunto da sociedade.
                11. Nossa tarefa principal é massificar. As transformações são realizadas pelas massas em movimento, jamais pelas vanguardas sectárias que colocam suas vontades acima do processo de consciência das categorias e desconsideram a correlação de forças na análise da realidade concreta.
                12. Neste sentido, nós, juventude do projeto popular, pautamos lutas objetivas para a realização de uma universidade popular no estado, pois o discurso convence, mas o exemplo arrasta; precisamos não só falar dos desafios, mas construir propostas concretas, fazer trabalho de base, produzir e divulgar o maior número de instrumentos de comunicação próprios, massificar a agitação e propaganda, organizar a formação política e ideológica dos militantes, fomentar a unidade de acordo a coerência tática das lutas objetivas.
                13. Dentre essas lutas, pautamos que os Restaurantes das universidades federais e estaduais sejam POPULARES, que significa, entre outras coisas: a. Atendimento amplo, para além da comunidade universitária, a baixos preços; b. O fornecimento da alimentação seja através da agricultura familiar e camponesa, cultivados pelos pequenos agricultores, sem agrotóxicos, contribuindo para desenvolvimento local e regional e garantia de uma alimentação de qualidade e barata; c. Nas universidades que não possuem restaurante, que se implantem imediatamente pontos de distribuição de refeições produzidas por cooperativas e associações das localidades, a exemplo da UESB Jequié, com utilização de alimentos nas mesmas condições acima elencadas. d. Os restaurantes funcionem nos três turnos.
                14. Temos certeza da viabilidade e da abrangência desta bandeira. Construímos recentemente um ato, conjuntamente com os movimentos sociais do campo, da Via Campesina, na Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) da Bahia. É uma proposta que ultrapassa os muros da universidade, proporcionando a inserção de organizações comunitárias e movimentos sociais na vivência universitária, ao mesmo tempo em que possibilita a toda comunidade acadêmica o consumo de alimentos saudáveis e a baixo preço.
                15. Apontamos a aliança prioritária com as organizações que compõem o campo popular na UNE por entender o compromisso destas com a luta pela democratização do acesso e permanência estudantil nas universidades e por compreender que a participação dos movimentos sociais do campo e da cidade nas ações é fundamental para superar os limites dos muros da universidade.
                16. Após um final de semana de muita formação de debates organizativos, encerramos nosso seminário com uma LUTA! Ocupamos a reitoria da UESB junto com a ADUSB, pautando o orçamento participativo e mais transparência no uso dos recursos das universidades, além, é claro, de mais recursos para a assistência estudantil. Agitamos e propagandeamos nossas palavras e de ordem, reafirmando nosso compromisso com a luta política pela educação brasileira!
                17. Esta nota é também uma convocatória, companheiros e companheiras! Que não fiquemos inertes enquanto a elite nos ataca em todas as frentes. Que busquemos a unidade dos movimentos populares! Que o movimento estudantil ultrapasse o corporativismo e levante bandeiras políticas! Que todos nós, estudantes, sejamos braços, pernas, corações e mentes nos movendo por um Projeto Popular para a Educação e para o Brasil!

Juventude que ousa lutar, constrói Poder Popular!
Levante Popular da Juventude
Bahia, 27 de julho de 2015

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