quarta-feira, 12 de agosto de 2015

217 anos da Revolta dos Búzios - "Animai-vos povo bahiense"

“Animai-vos, povo bahiense, que está por chegar o tempo feliz da nossa liberdade,
o tempo em que seremos todos irmãos, o tempo em que seremos todos iguais.”

Essa era parte dos dizeres que constavam em um manuscrito que foi afixado em áreas movimentadas e estratégicas da cidade de Salvador na madrugada do dia 12 de agosto de 1798, há exatos 217 anos. O manuscrito conclamava o povo a se levantar contra o governo da Capitania da Bahia e contra o domínio de Portugal, contendo ideais de igualdade e liberdade, abolição da escravatura, igualdade de direitos sem distinção de cor e liberdade de comércio. Como a imprensa era proibida na Capitania, a grande repercussão que essa ação teve se deu pelos boatos sobre o acontecimento nas missas e nas portas das casas das pessoas.

Salvador contava, naquela época, com cerca de 60 mil habitantes, e mais de 70% de negros e negras, e uma parcela muito pequena de pessoas alfabetizadas, dada a ausência de escolas. Em seus três períodos, i) período conspiratório e de divulgação das ideias; ii) de preparação para o levante; e iii) repressão, prisões, condenações e execuções; o movimento teve uma ampla base social e envolveu amplos setores da sociedade, inclusive das classes mais altas (como comerciantes, intelectuais, médicos, padres, professores), inspirados tanto pela conjuntura local, de grande exploração, altos impostos, ausência de direitos básicos, quanto pela conjuntura internacional, de independência de colônias na América e da Revolução Francesa.

O levante foi fortemente reprimido e a condenação de 4 dos acusados ao enforcamento e outras punições para artesãos, escravos e negros forros, já para os homens de "consideração", das classes mais altas, foi dado o perdão. Aos 4 revolucionários mais pobres, alfaiates e soldados desertores, restou o enforcamento em praça pública, esquartejamento dos corpos e exibição em diversas partes da cidade, para servir de "exemplo". Foi assim, que no dia 8 de novembro de 1799, João de Deus, Luiz Gonzaga, Manuel Faustino e Lucas Dantas, foram enforcados na Praça da Piedade.

Resgatar a Revolta dos Búzios é remontar a historia que não nos foi contada na escola, nos livros convencionais, nas revistas, nos filmes, nas novelas e na TV. É fundamental para que saibamos que o povo negro sempre resistiu e que nossa história é marcada pela luta e pela resistência do nosso povo.

Essa história nos inspira a resistir e lutar por transformações reais e profundas, que mesmo hoje, após os 217 anos, ainda não foram concluídas. Uma tarefa para a juventude de hoje: tornar nosso povo verdadeiramente livre e as pessoas verdadeiramente iguais em direitos e deveres.




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